quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Carta a mim mesmo.

Eu posso sentir seu medo. Eu posso vê-lo. Você tem medo de olhar pra você mesmo. Você tem medo de ver a lama, você tem medo de sentir a dor. Mas eu também sei que você sabe. Eu sei que você sabe que tudo isso está lá. Você corre pelo mundo, buscando algo fora. Você se embriaga, se intoxica. Você usa o que for necessário pra se intoxicar. Remédios, drogas, ciência, dogmas, fé. Até mesmo esperança. Você se intoxica de ódio, fúria, alegria, luxúria. Você aponta os problemas do mundo, as causas do seu sofrimento. Você aponta, fora. O mundo é mesmo um lugar miserável, diz. O mundo. Miserável. Mas onde está a miséria que você sente? Você se vê preso num labirinto. Não importa onde vá. Não importa o quanto de alegria você consiga extrair do momento. Não importa. A miséria está lá. Uma coceira. Uma dor nas costas, ou no pescoço. Um movimento brusco, ansioso. Mesmo depois do banquete, da orgia, ela não se afoga, ela não morre. Eu sei. Eu já tentei tudo. Tudo. Tudo mesmo. Se não nessa, antes. Ela está sempre lá. Como uma sombra, um fantasma. A miséria, a angústia, não importa o nome. Você conhece a sensação. Naquele dia você pensou na solução extrema. E se eu der um fim a isso tudo? E se eu pular no precipício? Eu sei. Eu já pensei nisso. Eu já pulei. Mas não adianta. Não há como fugir. Não há pra onde ir. Quando você voltar, ela estará lá. Te esperando. Ela quer olhar nos seus olhos. Ela também quer se libertar. Ela também não aguenta mais. Uma hora o encontro é inevitável. Se você foi tão longe, se você foi tão extremo, por que não? Você já provou de tudo, e de que adiantou? Você tem medo de perder isso que de nada serve? E se eu provar só mais aquele remédio? As pessoas falam mal dele, mas eu já tentei de tudo, por que não? Será? Se é meu conselho que você quer, talvez não seja o que sua mãe diria, mas eu digo: tente! Eu já tentei ele também. E haviam me dito como ele funcionava, e o que fazia ou deixava de fazer, mas não importa: eu tinha que provar! Eu mesmo. Minha experiência. E se não der certo, eu nem preciso te dizer. Você sabe o que fazer. Só você pode saber o que fazer. Os sintomas não são a doença, e, bem no fundo, você consegue enxergar a origem do problema. Ele pode acabar. Ele teve uma origem, ele pode ter um fim. Ele na verdade nem existe. É uma miragem. Apenas perca o medo. Olhe pra ele. Nos olhos. Ele me contou seu segredo certo dia. O sonho de todo mágico de Oz é acabar com essa mentira, se aposentar e voltar pra casa. Não sei se você percebeu, mas eu te chamei de Dorothy.

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