quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Estrela


Existe uma Estrela, nem sempre evidente no firmamento, que nos aponta uma misteriosa e tortuosa Estrada a seguir. Os Arautos do Medo e da Ignorância hastearam uma bandeira negra no portal de sua entrada, afastando os que não têm a força necessária para carregar o fardo posto nos ombros dos que seguem essa trilha. Nela o Cavaleiro da Loucura montou praça. Há, contudo, homens, raros homens, que se enamoraram de tal Estrela, e não vêem outro destino para si senão seguir o caminho apontado por sua amada. Eles fizeram da Morte sua amante, e trouxeram para si uma sentença: beijar seus lábios todas as noites. Ao fechar os olhos para receber o primeiro ósculo, foi-lhes revelado um grande mistério, destinado apenas aos que dividiram leito com a dama negra. Ela sussurrou no ouvido esquerdo do intrépido viajante: “Eu sou a contraparte da Verdadeira Vida, minha irmã gêmea e metade de mim, que só recebe em seus braços aqueles que já estiveram nos meus.”
Mal pisaram na trilha dolorosamente marcada no chão, e descobriram que o Cavaleiro não lhes era capaz de ferir. Ele falou-lhes: “Meus inimigos são os que me temem. Tua intrepidez é uma armadura que minhas armas não são capazes de perfurar.”
Por vezes, nas trevas, os viajantes não conseguirão mais ver a trilha sob seus pés. Nesse momento, lá estará sua estrela a brilhar no firmamento luminoso. Ao segui-la, descobrirão que podem ver no escuro, e de suas pegadas nascerá uma nova vereda.
O Caminho muitas vezes será doloroso, mas os que o trilham conhecerão prazeres que nenhum outro homem conhecerá. Um desses prazeres será revelado pela Ninfa Maga, que conduz os homens até um lago no qual se verá claramente o reflexo da Lua. Os que nele se banham ganham a misteriosa habilidade de enxergar o divino no que por todos é chamado profano. Tal poder lhes permitirá derrubar o véu que cobre o mistério posto no fim da Estrada. Atrás dele haverá um espelho, onde se pode ver a face de Deus. E agora o viajante já não ficará cego ao fazê-lo.

Sebastião Holanda

sábado, 17 de outubro de 2009

Primeiros passos.

Nosso gênio está acorrentado nos labirintos da sociabilidade. É cativo de nosso medo de agir erroneamanete frente aos padrões pré-estabelecidos. É prisioneiro de nossa fraqueza em não seguir aquele impulso vital tão claro em nosso interior. É escravo de nossa ignorância em não saber que somente na estrada que nos conduz a nós mesmos há vida e verdade. Muitas são as estradas, mas só uma nos aponto nossos corações. O primeiro passo é nascimento e morte, mas o cadáver já não mais serás tu. E o andarilho será divino em cada passo. Certo e errado já não mais terão significado algum. Fracasso e êxito fundir-se-ão em uma só coisa. O eremita já não mais sentirá as pedras no caminho machucar seus pés descalços. E tudo que antes era dor e prazer é agora apenas a certeza de que um dia toda metamorfose completar-se-á, e ele, ave, voará, livre.

Sebastião Holanda